Alargando Horizontes

A 'minha' casa, a 'tua' casa... Haverá espaço para a 'nossa' casa?...

21-04-2015 00:00

Há pouco aconteceu uma cena que me deu que pensar... Fui até ao Parque daCidade, sentar-me na relva, apanhar este sol bom, ver os animais (aves, sobretudo), ouvir o som da água… Estava a querer alguma resposta… Era para ir só meia-horinha, já que era minha intenção ir ao mercado comprar frutas e legumes, mas estava a saber-me tão bem que me fui deixando ficar. Várias “peças do puzzle” foram chegando, encaixando. A meia-hora já ia em uma, e percebi que já não iria a tempo do mercado… Mas continuava a saber-me tão bem estar ali... Decidi ficar e ir até à esplanada, que se encontrava deserta. Escolhi uma mesa à beira do lago, para poder ir acompanhando um casal de gansos com a sua enorme prole! 

 

Entretanto, telefona uma amiga. A conversa estendeu-se, e eu estava a sentir-me bem, alegre, descontraída. Tão descontraída que me ‘esqueci’ que estava numa esplanada e não sentada no meu sofá... O dono vem ter comigo e diz:”Eh, pá, assim não! Pés em cima da mesa também não!!” (Deixem-me só esclarecer que eram as pernas, ou melhor, uma perna que estava por cima da mesa, e não os pés, que mesmo em minha casa também não o faço!) Lá me endireitei na cadeira, pedindo desculpas ao senhor… A verdade é que o meu comportamento aconteceu por eu estar tão descontraída que esqueci onde estava e o corpo foi expressando esse relaxamento; o senhor talvez tenha sentido desrespeito, por si mesmo e/ou pelo sítio do seu ganha-pão. A verdade é que essa não foi, de todo, a minha intenção. Foi o que ele sentiu. Porquê? Ele talvez o saiba, talvez, e terá certamente as suas razões; eu seguramente não sei, posso apenas imaginar quais possam ser algumas delas. (Se fosse importante para mim, talvez lho tivesse perguntado.) 

 

Mas eu estava na sua ‘casa’ e, portanto, tinha duas hipóteses: ou ficava na esplanada seguindo as suas regras ou, se não isso não me agradasse, levantava-me e saía. (Que foi o que acabei por fazer, até porque o telefonema terminou e estava na hora do almoço!) Na verdade, ainda tinha, pelo menos, uma terceira hipótese: a de começar um “bate-boca” com o dito - mas esta faz cada vez menos parte da minha postura e do que escolho para mim.

 

Moral da história? Cada um tirará a sua. O que eu retirei (até agora…):

  1. Nós não conseguimos aceder à ‘intenção’ do outro, porque está no outro; a nossa reacção vem do que está em nós;

  2. Quando estamos na ‘casa’ do outro temos de respeitar as regras que ele escolhe para a sua própria casa, já que na nossa  própria ‘casa’ também queremos ser nós a ‘mandar’!;

  3. Ninguém é obrigado a ficar numa ‘casa’ quando não se sente lá bem; podemos exercer o nosso livre-arbítrio e decidir ir embora;

  4. Respeitar o outro não significa aceitar tudo o que ele nos queira dar (ou impôr), porque acima de tudo devemos respeito a nós mesmos (e o inverso é igualmente válido, obviamente!). Significa, sim, reconhecer e aceitar os ‘espaços’ de cada um, e reconhecer e aceitar que cada um é a autoridade máxima do respectivo espaço. Quando a co-existência é possível e gratificante (o que não significa, forçosamente, que seja uma “rosa sem espinhos”, mas que estes sirvam para crescermos em conjunto e não apenas para nos picarmos), muito bem; quando não, a cada um a sua ‘casa’!

 
Escusado será dizer que encontrei, ali, peça final do puzzle... Ou, pelo menos, a parte que fui procurar.

Maria João Faria